O ser humano tem medo daquilo que desconhece daquilo que tira o sono, ou daquilo que o acorda dos sonhos e trás a realidade nua e crua da pobreza, que atormenta 62 milhões de brasileiros, segundo pesquisa do IBGE – Instituto brasileiro de geográfia e estatística .
Mas apesar de tanta miséria e dificuldades, histórias de superação e luta pelos direitos básicos de todo cidadão, fazem a fome e o desespero darem espaço a esperança e a união. É o exemplo da favela dos sem-tetos, em Patos sertão paraibano.
Como todos os nordestinos, os favelados daquela comunidade carente enfrentam lutas diárias para manter a sobrevivência. Sempre com união e olhar atento ao vizinho, eles conseguem dar a volta por cima.
Ligados ao MTST - Movimento dos trabalhadores sem teto, buscam junto as autoridades e sociedade local, moradia digna de sobrevivência, para que possam criar seus filhos com o mínimo de conforto possível, trazendo a esperança de um futuro melhor, distante da realidade que vivem neste momento, como conta a moradora Angelita Oliveira da Silva, 24 anos, grávida de cinco meses.
Segundo o Líder da favela Edimilson Moreno, 44 anos, “A nossa luta não pode parar, pois dependemos disto, é nossa esperança, vamos conseguir, não vamos desistir, não importa quantas vezes levarmos um não” “o futuro destas crianças depende disto, quem sabe daqui não sai um doutor, um advogado?”afirma.
Apesar da pobreza dos moradores, nesta comunidade não há violência e as 30 famílias que residem ali, não permitem entrada de drogas ou bebidas alcoólicas, “já somos marginalizados pela sociedade, que olham a gente como se fossemos doentes, que tratam a gente como se fossemos assalta-los, então temos que mostrar a eles que somos pessoas de bem, em favelas não tem só marginais , mas sim trabalhadores como em qualquer lugar” afirma a moradora Maria Betânia Medeiros , 44 anos.
A maioria dos moradores sobrevivem da união de todos da comunidade, dividindo os alimentos conseguidos por aqueles que recebem algum tipo de auxilio do governo, “nos passamos de barraco em barraco na hora do almoço, para saber qual o morador que não tem nada para colocar no fogo, assim ninguém fica sem comer pelo menos uma refeição por dia, depois a gente se junta e da um pouquinho de arroz, feijão, cuscuz , o que pode, porque é muito ruim passar fome, só sabe quem passa, não vamos deixar um dos nossos passar por isso”, “aqui é todo mundo pobre, mas cada um ajuda com o que tem”, conta o Líder Edimilson .
As histórias destas pessoas são de cotar o coração, é difícil, não tem como não se envolver na realidade destas pessoas, principalmente quando olha-se envolta da favela, casas com muros altos e cercas elétricas, totalmente alheios a realidade encontrada na porta de suas casas de tijolos. Basta tirar a venda dos olhos, enxergar o que ta em sua frente, barracos de plástico, papelão, varas, o contraste é cruel, agrava-se a medida que aquelas moradias que eram para ser provisórias, tornam-se fixas, ano após ano, aumentando e nada sendo feito. A cada dia torna-se mais distante do sonho da casa própria.
Chega então as chuvas de inverno, tão sonhada pelos nordestinos, mas por aqui chuva trás desespero e não alegria, cada pingo que cai no teto de papel do barraco assombra a mãe, com medo de acontecer o pior com seu filho que dorme sem saber o perigo que esta sobre sua cabeça.
Nas últimas chuvas na cidade de Patos-PB, cerca de 2.000 mil famílias ficaram desabrigadas, perderam tudo, menos a vida, na comunidade dos sem-tetos não foi diferente, por conta do volume das águas muitos barracos desabaram ou ficaram com sua estrutura debilitada, mais um agravante pra este povo que já sofre tanto.
O líder Edimilson conta que todos os moradores se abrigaram no seu barraco, que tem uma estrutura menos ruim que os demais, as crianças da comunidade dormiram em sua cama, enquanto ele e sua mulher passavam a noite toda preocupados com o avanço das águas, “ foi quase um milagre caber tanta gente num espaço tão pequeno”afirma Edimilson.
Com todas estas dificuldades fica uma pergunta, será que mesmo nestas situações eles são felizes? esta resposta não foi dada por apenas um morador, mas por todos, que citam sempre Deus como seu mentor, e a esperança como combustível para enfrentar cada lutar, vencer cada obstáculo, a felicidade não depende de onde você vive ou como vive, mas sim do ponto de vista que você encara a felicidade, “ nós somos felizes, porque temos a riqueza do amor de Deus e o apoio de nossos companheiros” pensamento e palavras comuns a todos os moradores da favela dos sem-tetos.